Em 2002, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibia a comercialização de álcool líquido 70% à população em geral devido à ocorrência de inúmeros acidentes. Dezoito anos depois, essa decisão foi revogada em razão da pandemia da covid-19.
O cirurgião plástico e presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras Espírito Santo (SBQ/ES), Ariosto Santos, comenta que, de acordo com dados da entidade, o número de acidentes domésticos com queimaduras em segundo grau aumentou 30% em março no Brasil, coincidindo com o aumento do uso de álcool 70% GL e também com a quarentena implementada nesta época.
“O Brasil era o único país cuja comercialização deste produto era restrita à população, isso porque se trata de um componente altamente inflamável. Apesar das recomendações sobre o uso do álcool 70% para higienizar das mãos para evitar o contágio por covid-19, é importante ressaltar que não estamos lidando com um produto ‘inocente’ e com as crianças por um período maior dentro de casa, o risco de acidentes aumenta. O perigo torna-se ainda maior porque a chama do álcool gel não é visível”, alerta o médico.
Este aviso é reforçado ainda pelo caso de uma jovem universitária que sofreu queimaduras de segundo grau após utilizar álcool gel e depois fazer uso do fogão. A mulher não viu as chamas, somente sentiu a dor do acidente e segue em tratamento no Hospital Jayme dos Santos Neves.
Dentro de casa
De acordo com a SBQ, um milhão de pessoas sofrem queimaduras no ano no Brasil, desse número 200 mil são por substancias inflamáveis, o que inclui o álcool, e 40% das vítimas são crianças de até 10 anos. “Quase 80% desses acidentes acontecem dentro do ambiente familiar e o número de ocorrências pelo uso de álcool tende a aumentar com quarentena. Temos uma cultura de higienizar a casa com álcool, isso é perigoso e deve se evitado. O álcool, principalmente na forma líquida e em gel, é altamente inflamável e com alto risco queimaduras com lesões graves”, alerta.
Para evitar esses acidentes, os pais devem evitar que as crianças tenham o ao álcool. “Os responsáveis pelas crianças devem manter esses produtos fora do alcance dos pequenos. Para higienizar as mãos em casa, utilize água e sabão, conforme preconiza o Ministério da Saúde e demais autoridades sanitárias. O uso de álcool em gel deve ser reservado para momentos em que a pessoa não tiver o a uma pia para higienização”, ressalta Ariosto.
A queimadura de terceiro grau, por exemplo, destrói todas as camadas da pele e resulta na perda de flexibilidade, elasticidade e de seu aspecto natural. As de segundo grau atingem a epiderme e a derme, causando dor e deixam cicatrizes. Uma queimadura de primeiro grau atinge a camada mais superficial da pele, a epiderme e causa dor e vermelhidão, mas provocam nenhuma sequela na vítima.
O que fazer?
Em caso de queimaduras, Ariosto orientar a colocar um pano limpo e ir diretamente para um hospital para evitar a infecção e aprofundamento da lesão. “Receitas caseiras como clara de ovo, pomadas e borra de café devem ser evitadas para prevenir a ocorrência de contaminação da ferida”, destaca o médico.
Casa protegida
Além do álcool, o presidente da SBQ/ES reforça os cuidados com cabos de a, manuseio de líquidos quentes, proteção de tomadas e ferro elétrico para evitar queimaduras térmicas, provocadas por exposição a fontes de calor, ou elétricas, provocadas por contato com correntes elétricas.