Política

Pastores aliados de Bolsonaro apelam por jejum para virar voto

Mensagens e correntes na internet indicam, pela primeira vez, que pastores item que parte dos fiéis neopentecostais irá preferir o voto em Lula

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Foto: Agência Brasil

Às vésperas do primeiro turno, pastores, influenciadores evangélicos e políticos de direita convocam seus seguidores a fazer jejum e vigílias na tentativa de convencer indecisos ou eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a votar no presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição pelo PL. Os apelos se disseminaram nas redes sociais sob o argumento de que uma eventual vitória do petista representaria um perigo ao País e à fé cristã.

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Pastores ainda põem em xeque as pesquisas de intenção de votos – que hoje indicam o petista à frente do atual presidente -, e orientam cristãos a não votar em candidatos da esquerda. Na segunda e terça-feira desta semana, conteúdos políticos impulsionados por líderes religiosos geraram 4,3 milhões de interações no YouTube, Instagram e Facebook.

Os dados foram compilados pela organização Casa Galileia, que promove ações e campanhas sobre cristãos no Brasil. O levantamento encontrou 843 publicações ligadas a perfis evangélicos. Nove em cada dez postagens foram feitas por contas consideradas de extrema direita.

“O tom das mensagens é bem desesperado. Os pastores ainda não tinham feito um discurso assumindo que parte do eleitorado evangélico não vai votar em Bolsonaro e vai votar em Lula”, afirmou Andréa Laís Barros Santos, doutoranda em Ciências Sociais na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e assessora de pesquisa da organização Casa Galileia.

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Com participação do vereador Nikolas Ferreira, candidato a deputado federal pelo PL em Minas, jovens influenciadores cristãos se uniram em um vídeo para engajar evangélicos na eleição. “A nossa arma? Jejum e oração. A nossa luta? Contra o verdadeiro mal. E o nosso tempo? É agora”, dizem.

Na sequência, fazem um chamado: “Assim como a rainha Ester que entendeu seu propósito e convocou dias de jejum e oração pelo seu povo que estava em perigo, te convocamos para, juntos, além de nos posicionarmos com um voto consciente, entrarmos em tempos de oração e jejum de três dias, entre os dias 30 de setembro e 2 de outubro, pelas eleições no Brasil”.

Uma das principais cabos eleitorais do presidente entre mulheres e evangélicos, a primeira-dama Michelle Bolsonaro compartilhou no Instagram um vídeo com convocação para um jejum de 12 horas já a partir desta quinta-feira, 29. O conteúdo também foi impulsionado pelo pastor Silas Malafaia, da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Partem ainda de Malafaia suspeitas em relação às pesquisas. “Pesquisa não vota. Quem vota é você. Vamos dar uma resposta com nosso voto a essa safadeza dessa manipulação”, afirma.

Conspiração

Como mostrou o Estadão, bolsonaristas têm recorrido às redes para espalhar uma teoria da conspiração segundo a qual uma fraude eleitoral impedirá a reeleição de Bolsonaro. O presidente já afirmou, em entrevistas, que terá 60% dos votos. Pesquisa Datafolha indicou Lula com 50% e Bolsonaro, com 36%.

O movimento busca reverter essa tendência. “O destruidor quer entrar não só na nação brasileira, ele quer destruir a Terra”, diz a pastora Valdirene Moreira, em vídeo que já teve 78 mil visualizações. “O inseticida tem número: 22”, afirma, em referência ao número do partido de Bolsonaro.

Vinicius do Valle, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Observatório Evangélico, afirma que hoje há um sentimento de angústia no meio mais alinhado ao bolsonarismo. “Quando o moral da tropa está baixo, há uma tentativa de levantar”, disse.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.