Política

Aliada de Moro retoma domínio sobre processos remanescentes da Lava Jato

Pouco depois de reassumir o cargo, ainda ontem, Gabriela já proferiu um despacho na Lava Jato

Aliada de Moro retoma domínio sobre processos remanescentes da Lava Jato Aliada de Moro retoma domínio sobre processos remanescentes da Lava Jato Aliada de Moro retoma domínio sobre processos remanescentes da Lava Jato Aliada de Moro retoma domínio sobre processos remanescentes da Lava Jato
Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Com a saída de Eduardo Appio do comando da 13ª Vara Federal de Curitiba, aliados do ex-juiz e atual senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) voltaram a ter poder de decisão sobre as ações remanescentes da Lava Jato. 

Entre os magistrados envolvidos no julgamento dos processos, na capital paranaense e em Porto Alegre – onde fica a sede do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, cuja jurisdição inclui o Paraná -, Appio era voz dissonante, que defendeu “ar a limpo” as decisões do juízo e “um acerto de contas com a verdade”.

No lugar de Appio assumiu, interinamente, a juíza Gabriela Hardt. Como substituta, a magistrada já despachou ao lado dos dois antecessores de Appio: Luiz Antônio Bonat, alçado a desembargador do TRF-4, e Moro. 

Em 2019, foi ela quem condenou o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva a 12 anos e 11 meses de prisão por corrupção iva e lavagem de dinheiro na ação penal que envolve o sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP).

Pouco depois de reassumir o cargo, ainda ontem, Gabriela já proferiu um despacho na Lava Jato: determinou que o Ministério Público Federal se manifeste no processo em que Appio pediu que a Polícia Federal apure escuta ilegal encontrada na cela do doleiro Alberto Youssef à época em que ele esteve preso na carceragem da corporação, em Curitiba.

Appio falou em “acerto de contas com a verdade” durante entrevista à GloboNews que foi ao ar poucas horas antes de o TRF-4 afastá-lo da vara responsável pela Lava Jato, anteontem, e proibir seu o tanto aos sistemas de informática como às instalações da Justiça Federal.

As mudanças trazem à luz um jogo de poder em torno da 13ª Vara, que, nos últimos nove anos, tornou-se o centro da discussão sobre política e corrupção no Brasil. 

Por ser a primeira vara especializada em lavagem de dinheiro no Sul do País, ela absorveu os processos sobre crimes financeiros que derivavam do Caso Banestado – investigação sobre remessas ilegais de dinheiro por meio de contas especiais no antigo Banco do Estado do Paraná (privatizado em 2000).

A partir de Curitiba, a Operação Lava Jato alterou o mapa político do País. Levou à prisão de Lula em abril de 2018 e deu popularidade ao então juiz Moro e ao então procurador Deltan Dallagnol, que coordenou a força-tarefa do Ministério Público no Paraná. 

Moro foi titular da vara especializada em crimes financeiros desde sua criação, em 2003, até novembro de 2018, quando deixou a magistratura para ser ministro da Justiça no governo Jair Bolsonaro (PL). No ano ado, elegeu-se senador, com 1,9 milhão de votos.

Deltan foi o deputado mais votado no Paraná, com 344 mil votos. Na semana ada, teve o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que entendeu haver fraude à Lei da Ficha Limpa no seu processo de exoneração do Ministério Público Federal, por haver 15 reclamações contra ele que poderiam se tornar processos istrativo-disciplinares.

INTIMIDAÇÃO

Appio foi afastado das funções pela Corte Especial istrativa do TRF-4, que investiga se ele tentou intimidar ou ameaçar o advogado João Eduardo Malucelli em ligação telefônica realizada em 13 de abril. 

João Eduardo é namorado da filha de Moro, Julia, e trabalha no escritório Wolff Moro Advocacia, liderado pela mulher do senador, a deputada Rosângela Moro (União Brasil-SP).

O pai de João Eduardo é o desembargador federal Marcelo Malucelli, relator da Lava Jato em segunda instância, no TRF-4. Na semana do telefonema, o desembargador havia tornado sem efeito decisão de Appio de revogar pedido de prisão preventiva contra o advogado hispano-brasileiro Rodrigo Tacla Duran, que acusa Moro e Deltan de extorsão.

O telefonema recebido por João Eduardo foi gravado em vídeo. A Justiça Federal pediu à PF que comparasse a voz da gravação à de entrevistas de Appio. Segundo despacho do corregedor do TRF-4, desembargador Cândido Alfredo Silva Leal Júnior, o laudo “corrobora fortemente a hipótese” de que a voz gravada é de Appio.

“APRONTADO”

Na ligação, o interlocutor de João Eduardo diz ser funcionário do setor de saúde da Justiça Federal, afirma ter tido o à declaração de Imposto de Renda do desembargador e faz perguntas. O advogado pede que ele entre em contato com seu pai. Ao fim, a voz que seria do juiz pergunta: “E o senhor tem certeza que não tem aprontado nada?”

Levantamentos feitos no processo disciplinar que afastou Appio demonstram que ele ou uma página do sistema da Justiça Federal que continha o número de telefone de João Eduardo dois minutos antes do horário em que a ligação foi realizada.

O afastamento do juiz se deu sem perda de remuneração. Ele tem direito a defesa, que deve ser apresentada ao colegiado da Corte Especial istrativa. O despacho dá 15 dias para a defesa prévia.

Ontem, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), requisitou à 13ª Vara e ao TRF-4 cópias das ações penais nas quais Tacla Duran figura como réu. Solicitou também todos procedimentos a elas relacionados, inclusive processos em que o Ministério Público Federal questiona a conduta de Appio. Toffoli reforçou que nem o TRF-4 nem a 13ª Vara poderão despachos no âmbito das ações ligadas a Tacla Duran.

Em entrevistas, ontem, Moro itiu que tinha conhecimento prévio da gravação feita pelo namorado da filha. “Fiquei perplexo. O que nós fizemos? Recolhemos o material e entregamos ao tribunal, que fez toda a operação”, disse.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.