Polícia

Inspetores penitenciários denunciam treinamento rígido no Espírito Santo

O grupo é colocado, no carro, minutos depois do lançamento das bombas. Em seguida, as portas são fechadas. Os alunos começam a bater na lataria, na tentativa de serem liberados

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Inspetores penitenciários denunciam treinamento rígido no Espírito Santo
Durante o treinamento, os alunos foram obrigados a entrar em um camburão com gás lacrimogêneo Foto: Reprodução

Alunos que aram em um concurso para inspetores denunciam tortura física e psicológica durante um treinamento para exercerem a função, em abril de 2015.

Um vídeo de um treinamento divulgado à imprensa por um aluno, neste sábado (6), mostra o momento em que os ingressos são obrigados a entrar em um veículo da Secretaria Estadual de Justiça (Sejus), em meio a uma fumaça, com características de gás lacrimogêneo.

No vídeo é possível ver o pânico a que os alunos seriam submetidos em uma das etapas do treinamento para ocuparem o cargo.

O grupo é colocado no carro minutos depois do lançamento das bombas. Em seguida, as portas são fechadas. Os alunos começam a bater na lataria na tentativa de serem liberados. O desespero entre os alunos é tanto que, logo, um deles chega a regurgitar.

“As imagens são realmente fortes, mas esse tipo de treinamento é essencial no setor penitenciário. Na carreira, vai ter momentos em que o agente vai precisar utilizar o gás em determinadas situações. O instrutor precisa saber do limite que a pessoa aguenta em situações extremas”, diz o presidente do Sindicato dos Agentes do Sistema Penitenciário do Espírito Santo (Sindaspes), Antônio Carlos Vilela.

Os alunos ficaram presos por alguns segundos no camburão que estava com gás lacrimogêneo Foto: Reprodução

O especialista em segurança Jorge Aragão, porém, se diz perplexo com o vídeo. “O que é nítido na imagem é o desespero dos agentes saindo sufocados em desespero porque esse gás é químico e tem alto grau de toxicidade, é sufocante. É importante lembrar que a ONU, desde a década de 1930, considera este armamento, um armamento químico”, afirma.

Aragão completa sobre o grau de periculosidade do armamento. “Esta é uma arma menos letal, mas não deixa de ser letal. Imagine se a pessoa tem alguma doença respiratória, ela pode até morrer”, diz.

Os alunos fizeram uma denúncia ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES) e querem uma investigação sobre o treinamento a que foram expostos.

O outro lado

Em nota, a Secretaria Estadual de Justiça (Sejus) informou que não houve agressão física contra os servidores que estavam participando do treinamento. As imagens mostram parte do treinamento de manuseio a armamento químico que é ministrado para os inspetores penitenciários.

“Neste treinamento, o profissional é exposto a este tipo de material para que conheça os efeitos e aprenda a á-lo. Esta é uma técnica também utilizada em outras instituições e visa a habilitar o profissional a utilizá-lo no controle de distúrbios, motins ou rebeliões”, declara o subsecretário para Assuntos do Sistema Penal, Alessandro Ferreira de Souza.

A Sejus salienta que abrirá uma sindicância para apurar se houve ou não negligência nos procedimentos de segurança ministrados no treinamento dos alunos.