
Um estudo inovador realizado pelo Centro Tecnológico Agropecuário do Estado da Bahia (Cetab), em parceria com a Universidade Federal da Bahia (PGAli-UFBA), a Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e o Centro de Inovação do Cacau (CIC), revelou as propriedades e o potencial do mel de cacau. A pesquisa, conduzida pela doutoranda Manuela Barreto, foi publicada nas revistas científicas Food Analytical Methods and Molecules, além de receber um prêmio na 47ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química.
De acordo com a pesquisadora, o mel de cacau é um subproduto gerado na etapa que antecede a fermentação do cacau, obtido por meio da prensagem a frio das sementes da fruta. Rico em pectina, vitamina C, minerais e antioxidantes, o mel de cacau se destaca pelo alto teor de sólidos solúveis, açúcares e valor energético. Além disso, contém significativas quantidades de zinco e magnésio, além de baixos níveis de sódio.
Os benefícios à saúde são diversos. O zinco é essencial para mais de 300 enzimas envolvidas na síntese de proteínas, reprodução e metabolismo de ácidos graxos. Estudos indicam que o consumo desse mineral pode auxiliar na redução da pressão arterial e no controle da glicose em pacientes com diabetes e doenças cardiovasculares.
Um mercado promissor
O mel de cacau tem despertado o interesse da indústria alimentícia e de cosméticos. Seu uso já vem sendo explorado na fabricação de suco congelado, bebidas alcoólicas, geleias, vinagre e como substituto do açúcar na produção de chocolates e sorvetes. No setor de beleza, suas propriedades hidratantes e antioxidantes o tornam uma matéria-prima promissora para cremes faciais e loções corporais.
No Espírito Santo, o mel de cacau vem ganhando espaço entre produtores que enxergam na bebida uma oportunidade de agregar valor à produção local. O líquido doce e refrescante pode ser consumido diretamente da fruta, proporcionando uma experiência única aos consumidores.
A produtora rural Erika Rangel, de Linhares, explica que a qualidade do mel de cacau depende do ponto de maturação dos frutos colhidos. “Os trabalhadores já têm a recomendação de selecionar apenas os frutos maduros, pois isso influencia diretamente na qualidade do mel e das amêndoas de cacau fino”, destaca.
Da colheita ao produto final
Após a colheita, os frutos am por um rigoroso processo de seleção. O cacau sem defeitos segue para a extração do mel, enquanto os frutos danificados são destinados a outros usos. O processo de prensagem do cacau precisa ser ágil para evitar fermentação indesejada, garantindo a pureza do líquido extraído.
O produtor rural Vanildo Muniz destaca a importância desse cuidado: “Assim que quebramos o fruto, ele já começa a fermentar. Por isso, o mel deve ser extraído e imediatamente armazenado para preservar sua qualidade”.
A tradição do cacau e a inovação
A família de Erika e Vanildo cultiva cacau há gerações. Erika decidiu aprofundar seus conhecimentos sobre a cultura e buscar formas de inovação para manter a tradição familiar. “O cacau sempre fez parte da minha vida. Meu pai me chamou para continuar esse legado e fui estudar, fazer cursos, aprender sobre manejo e produção de chocolate”, conta.
Além do mel, a sustentabilidade também é uma prioridade na propriedade. A casca do cacau, subproduto do processo de extração, é reaproveitada na alimentação do gado e há planos para utilizá-la na compostagem, reduzindo custos com adubo e fechando o ciclo sustentável da produção.
O cacau, símbolo da cultura capixaba, continua se reinventando e oferecendo novas oportunidades para os produtores. Se depender da nova geração, o mel de cacau será cada vez mais valorizado no mercado, conquistando espaço na mesa dos brasileiros e nos cosméticos naturais.
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