A grande arrancada na decisão do C1 1000m nos Jogos Olímpicos de Paris-2024, subindo do quinto lugar para a medalha de prata serviu de superação e alívio para Isaquias Queiroz.
Esperança de pódio brasileira, o canoísta de 30 anos chegou pressionado à França, vinha da frustração pelo último lugar no C2 500m e não escondeu que também teve de superar decepções e problemas psicológicos para subir ao pódio pela quinta vez e poder homenagear o filho.
>> Quer receber nossas notícias 100% gratuitas? Participe do nosso canal do Telegram!
Muitos atletas de alta performance vêm sofrendo para manter a cabeça boa antes de competições importantes como a Olimpíada e com Isaquias não foi diferente. Após fechar em segundo em sua principal prova olímpica nesta sexta-feira (9), ele desabafou, feliz pela volta por cima e por conseguir a medalha.
“A sensação é de alívio, felicidade… muita felicidade. Não foi um ano fácil para mim e para minha esposa. 2023 foi um ano diferente e especial, quando eu percebi o que não é ser campeão mundial e super atleta. E sim ser um humano com problemas físicos e psicológicos. Tive que me remontar. Tive que correr muito para ficar em forma. Não é fácil ficar fora de pódios”, contou Isaquias, ressaltando a temporada sabática na qual ou sem disputas para descansar o corpo e a mente e ficar próximo da família em Ilhéus, na Bahia.
“CIDADE DAS CANOAS”
Isaquias nasceu na “cidade das canoas”, significado em tupi-guarani de Ubaitaba, na Bahia. O local de nascimento já predestinava o que o canoísta viria a conquistar remando em uma canoa, mas não sem antes superar alguns obstáculos.
O menino cresceu numa família humilde, ao lado de nove irmãos. O pai morreu quando o campeão olímpico ainda era criança e a mãe, Dona Dilma, sustentava a casa como servente na rodoviária da cidade.
Com apenas três anos de idade, uma a de água fervente virou sobre Isaquias, que ficou um mês internado, com queimaduras em diversas partes do corpo. Sem se recuperar a ponto de conseguir alta do hospital, Dona Dilma assinou um termo de responsabilidade, o levou para casa e cuidou dele até a recuperação.
Aos 10 anos, Isaquias subiu em uma mangueira para ver uma cobra morta, se desequilibrou e caiu de costas em cima de uma pedra. A pancada provocou uma lesão séria no rim, com hemorragia interna, que o levou a uma cirurgia para retirada do órgão. O incidente gerou o apelido de “Sem Rim” ao, agora, cinco vezes medalhista olímpico. Isaquias costuma brincar que “perdeu um rim, mas ganhou um terceiro pulmão”.
Pouco tempo depois, a canoagem entrou na vida do garoto. Isaquias começou a participar do Projeto Segundo Tempo, que oferecia prática esportiva para crianças e adolescentes de Ubaitaba.
O “goleiro” Isaquias queria o futebol, mas a canoagem velocidade dominou o coração do menino, inspirado por outro filho ilustre da “cidade das canoas”, Jefferson Lacerda, pioneiro da modalidade no Brasil, que competiu em Barcelona-1992, na primeira vez que canoístas brasileiros estiveram nos Jogos.
AO LADO DE LENDAS DO ESPORTE
Isaquias abriu mão de parte da carreira e só foi ao Mundial de 2023 para se garantir na Olimpíada. Fechou pela primeira vez na história da competição sem medalhas, mas conseguiu chegar à Paris mais relaxado e era só alegria nesta sexta-feira.
Com a prata em Paris, ele tem agora cinco medalhas olímpicas e se iguala aos velejadores Robert Scheidt e Torben Grael na lista dos maiores medalhistas olímpicos do esporte brasileiro. O trio só fica atrás da ginasta Rebeca Andrade, que tem seis medalhas.
“Chegar aqui com a prata é ser campeão olímpico para mim. Cheguei à seleção em abril e tive que correr muito para chegar aqui. Fico feliz de poder chegar a essa quantidade de medalhas (cinco). Queria que fossem mais duas, com o ouro seria melhor ainda, mas estou feliz por ter ganhado a de prata e chegar na marca de Robert Scheidt, Torben Grael, não tem como tirar o brilho desses caras, são os pioneiros do Time Brasil”, endossou o canoísta.
“ACEITAR QUANDO PERDEMOS”
Na quinta-feira, Isaquias havia disputado a final do C2 500m ao lado do jovem Jacky Godmann, mas acabou ficando na oitava colocação. A dupla foi quarta colocada em Tóquio-2021 e considerava estar ainda mais preparada para a disputa em Paris.
A decepção por não ter chegado ao pódio no C2 foi uma motivação a mais para o baiano de Ubaitaba.
“Eu fiquei muito triste de não estar no pódio nas duplas. É um peso que eu tiro das minhas costas agora. Poder chegar em Paris, ser medalhista de prata e porta-bandeira. Lógico que a gente fica triste quando perde. Ver os adversários ganhando. Mas acima de tudo fica o respeito. Temos que aceitar quando perdemos. Não significa que somos ruins, e sim que eles foram melhores. Ganha quem tem a unha maior”, concluiu.
HOMENAGEM AOS FILHOS E MEDALHA QUEBRADA
Isaquias aproveitou para homenagear o filho Sebastian, de seis anos, sua inspiração nas competições.
“Sebastian me disse: ‘pai quero medalha de ouro’. Não vai dar ouro, mas vou ao pódio”, celebrou o atleta do Flamengo, que na hora de receber a medalha comemorou de maneira diferente para atender seu herdeiro.
“Meu filho me pediu pra fazer o ‘Kamehameha’ e eu disse: ‘tá bom, vou ter que fazer porque ele pediu’. A gente assiste muito Dragon Ball e fiquei muito feliz de subir no pódio mais uma vez.”
Durante as comemorações com os filhos, Sebastian e Luigi, porém, a medalha caiu no chão e foi danificada, o que fez a equipe do canoísta negociar com o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos a liberação de uma nova medalha.