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Fernando Coimbra desvenda "O lobo Atrás da Porta"

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São Paulo – Fernando Coimbra estava no Oficina, trabalhando com José Celso Martinez Corrêa. Um dia, o encenador lhe mostrou uma revista antiga – “Olha que coisa mais interessante.” A revista relatava o caso da Fera da Penha, como a imprensa dos anos 1960 se referia à mulher que, por vingança, matou a filha do ex-amante, no Rio. Zé Celso não sabia, mas estava desencadeando uma obsessão. Por anos a fio, Coimbra pesquisou tudo, tentando decifrar o enigma dessa mulher.

Sua ideia fixa não era absolvê-la, mas devolver-lhe a humanidade. A paixão faz coisas estranhas com as pessoas. A fera, afinal, era humana. Foi uma longa travessia do deserto que terminou nessa quinta-feira, 05, com a estreia de O Lobo Atrás da Porta. Um filme de gênero – policial, e dos bons. Com um elenco poderoso – Leandra Leal, Fabíula Nascimento, Milhem Cortaz. O público, que transforma as comédias brasileiras em blockbusters, bem poderia mudar de gênero. Uma vez que se entra no universo denso e sombrio do Lobo, é difícil sair incólume.

O próprio Fernando Coimbra é prova disso. Paulista de Ribeirão Preto, ele se apaixonou por essa tragédia carioca e suburbana. Deu-se conta, imediatamente, que embora a história seja universal, a ambientação teria de ser mantida no Rio. “Não creio que em São Paulo pudesse ocorrer essa coisa de as pessoas se conhecerem e iniciarem uma relação no trem, no metrô. É coisa muito de carioca. As pessoas lá são menos fechadas, se comunicam mais.” Ele confessa que pesquisou muito. “Li a imprensa da época, os autos do processo e do julgamento. E percebi que havia muito forte essa condenação pelo crime hediondo. Monstro, fera, era assim que a imprensa se referia a Neide, a criminosa de verdade. Para mim, era importante devolver-lhe a condição humana. É o que faz a tragédia.”

Coimbra sabe que não está inventando o thriller – o policial – à brasileira. Existem bons antecedentes. Mas de todas as formas possíveis para contar sua história, foi essa que escolheu porque lhe parecia a mais adequada. “O filme começa de um jeito e vai sofrendo correções de rumo pelo próprio andamento da enquete policial. A criança desaparece, a polícia investiga. Os pontos de vista vão mudando até o desfecho. Sempre achei que precisava de um desfecho forte, para uma história que já é forte.” Ele ite que nunca viu o filme antigo – Crime de Amor, de 1965, com Beyla Genauer, feito quando a história ainda era recente (ocorreu em 1960). Crime de Amor ganhou um monte de prêmios, mas até onde o repórter se lembra não era tão denso quanto a versão de Coimbra.

Nos muitos anos que levou para concretizar o filme – desde a faculdade de cinema -, ele teve tempo de construí-lo na cabeça, e aprimorá-lo. O roteiro em puzzle, a história que vai sendo revelada (a verdade), os personagens que mudam sob o olhar do espectador. “Tive tempo de procurar as locações, de pensar como ia usar a periferia. Mas sempre soube que escolhas equivocadas de elenco poderiam matar a intenção.” Para o papel de protagonista, Coimbra queria uma atriz jovem, bela e que introduzisse uma nota ambígua. Se o crime foi por amor, a vítima, abandonada, teria de virar algoz. Leandra Leal tem tudo isso. A sensualidade. O olhar terno. E a dureza.

“Leandra embarcou e ultraou o que esperava. Milhem (Cortaz) é um ator viril, de forte presença, mas que sabe desabar. Já conhecia os dois. Através dele, cheguei à Fabíula (Nascimento). Milhem me dizia que, mesmo que não fizesse o filme, a Fabíula tinha de ser a esposa. Sou muito feliz com meu elenco.” Sobre a expectativa de público, é prudente. “O filme tem potencial. O público e a crítica correspondem, em todo lugar onde tem ado. Mas é um filme médio. Nem blockbuster nem muito pequeno. É preciso acertar no lançamento. Tirar o público de casa para outra coisa que não seja comédia tem sido difícil. O que eu sei é que o Lobo comunica.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.