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De estudos em Milão à criação de orquestra: "Aos 80, meu orgulho é o legado do meu trabalho pela música no ES", diz Natércia Lopes

Natércia Lopes chega aos 80 anos com legado que, de estudos na Europa a aulas no Rio de Janeiro, a faz ser um dos nomes de ouro da música no Espírito Santo; veja entrevista exclusiva completa em vídeo

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De estudos em Milão à criação de orquestra: “Aos 80, meu orgulho é o legado do meu trabalho pela música no ES”, diz Natércia Lopes De estudos em Milão à criação de orquestra: “Aos 80, meu orgulho é o legado do meu trabalho pela música no ES”, diz Natércia Lopes De estudos em Milão à criação de orquestra: “Aos 80, meu orgulho é o legado do meu trabalho pela música no ES”, diz Natércia Lopes De estudos em Milão à criação de orquestra: “Aos 80, meu orgulho é o legado do meu trabalho pela música no ES”, diz Natércia Lopes
A cantora Natércia Lopes (Foto: Vitor Machado/Coluna Pedro Permuy)
A cantora Natércia Lopes (Foto: Vitor Machado/Coluna Pedro Permuy)

Dos 8 aos, agora, 80 anos, Natércia Lopes mantém contato íntimo com a música. Tem um prêmio que leva o próprio nome em sua homenagem; iniciou os estudos profissionais de canto no Teatro alla Scala di Milano, em Milão, na Itália, com professores do nível A mundial; e teve formação musical completa feita no Rio de Janeiro – mesmo sendo de Castelo, Sul do Espírito Santo. Mas o orgulho que tem, como ela mesma diz, é do legado fruto do trabalho que fez para a cultura capixaba.

“Eu tenho consciência da minha importância para a cultura do Estado. Por isso acho que foi uma tarefa muito gloriosa (sair do Brasil e me manter aqui). Foi uma missão que Deus me deu eu acho. Eu tive uma mãe muito positiva, que me queria formar artista e me queria cumprindo um papel feliz na Terra. E conseguiu (risos)”

Natércia Lopes, artista

“Eu estudei no Rio. Ia para lá toda semana para pegar professores que entendiam de estilo, de como fazer a coisa acontecer no palco… Aqui em Vitória era , era tudo numa base que não é como hoje, profissional. Tinha que sair (do Estado) daqui para crescer. Então eu ia toda semana, o que foi muito difícil, cansativo… Mas não larguei. E eles queriam que eu ficasse lá, mas eu sempre tive convicção de que eu queria ficar aqui”, confidencia, em entrevista exclusiva à Coluna Pedro Permuy, que não é boba nem nada, e inaugura, com esta publicação, a #CapaDigital, novo projeto da coluna no Folha Vitória.

A cantora Natércia Lopes (Foto: Vitor Machado/Coluna Pedro Permuy)
Foto: Vitor Machado/Coluna Pedro Permuy

Muito antes de soltar a voz na Cidade Maravilhosa, por outro lado, Natércia treinava o dom musical ao piano, desde criança, por incentivo da mãe. “Quando começou?”, questiona este colunista. “Ih, nem sei (risos)”, responde, caindo na risada. “Desde pequena já tocava piano em Castelo, onde nasci”, completa.

De lá para cá, o que mudou – além de toda a evolução artística, é claro – é a consciência do que, hoje, uma oitava de vida (uma oitava, ao piano, é o nome que se dá ao conjunto de oito notas).

“Fazer 80 anos é um prazer. Porque mostra que você está conseguindo ultraar os desertos, os buracos da vida… As decepções, alegrias… (Completar essa idade) é um conjunto, de preferência harmônico, em que você se sente bem. Mas envelhecer, por si só, é difícil, claro. Mas eu driblo bem (risos)”, brinca.

A idade também não virou um fator limitante que afeta a maioria das sopranos – a voz. “A voz é uma coisa muito delicada. Você não pode fazer técnica errada porque pode ficar rouca, pode interpretar a partitura de um jeito errado… E aí você chega ao palco e a coisa não acontece. Mas no fim, se você levar a sério, você será vitoriosa. Eu tive um base muito boa para isso. Não é com vaidade, não. Eu fui, plantei, reguei, viajei, fui fazer curso fora, ganhei prêmio… Tudo aconteceu normalmente. E foi necessário para me formar como sou”, justifica.

“É porque minha voz é virgem (risos). Não envelheceu (risos). Mas isso é fruto de boa técnica, que tem que ser exercitada desde e para sempre”

Natércia Lopes, artista

O bom humor de Natércia no bate-papo reflete bem como ela é na vida. “Eu acho que a minha receita (para chegar aos 80 anos) pode até ter me prejudicado. Mas eu fiquei meio doidona, acho (risos). Para as pessoas não me cobrarem tanto algo que eu não poderia dá-las, se fosse o caso. (O artista tem que ter) uma loucura, sim… Um pouco pelo menos (risos)”, conta, às gargalhadas.

Essa dualidade de personalidade – da Natércia artista com a Natércia que ava horas estudando teoria musical e pura matemática para ler partituras clássicas – facilitou na construção de algumas personagens de óperas das mais icônicas que a capixaba interpretou.

“Carmen, da ópera de Bizet, ficou em mim para sempre”, exemplifica, se referindo à personagem que canta a clássica “Habanera”. “A Musseta, personagem central da ópera La Bohème, de Puccini, também. Ela era mais safadinha, eu adorava (risos). São personagens que ficaram na Natércia até hoje”, diz, já se colocando na terceira pessoa.

“EU ME ORGULHO DO PRESTÍGIO QUE O POVO SEMPRE ME DEU. EU NÃO DESISTI POR ISSO”

Ao contrário da música sa que cantou acompanhada ao piano Steinway & Sons de cauda do Palácio da Cultura Sônia Cabral, onde recebeu a Coluna Pedro Permuy, o início da vida de Natércia não foi lá como a vida cor de rosa de Piaf.

“Quando você começa, ninguém acredita no que você está fazendo. Eu fiz o máximo que eu pude. Não fui perfeita, ninguém é. Mas segurei uma barra que, no final, foi muito positiva para a cultura do Espírito Santo”, avalia.

A base, para a artista, foi a família. “Você se entrega totalmente, procura fazer o melhor… Hoje, eu colho o que plantei. Tenho noção do que é meu nome e minha capacidade. Nossa orquestra tem nível internacional. E deu no que deu”, fala, se referindo à Orquestra Sinfônica do Espírito Santo (Oses), a que ajudou a fundar.

“Quando cheguei a Vitória eu já tocava piano. E mamãe falou: ‘Vamos para a escola de música’. Em seguida, ela me colocou para cantar com uma professora que vinha para o Espírito Santo do Rio de Janeiro. Minha mãe e meu pai me incentivaram muito e eu nunca desisti”, relembra.

A cantora Natércia Lopes (Foto: Vitor Machado/Coluna Pedro Permuy)
Foto: Vitor Machado/Coluna Pedro Permuy

“Hoje, junto do Tarcísio (Santório) e do Helder (Trefzger) eu dou o apoio que eles querem para a orquestra. Hoje ninguém mexe mais com a orquestra porque tenho eu para tomar conta. É isso que eu quero que lembrem de mim, é o legado que eu quero deixar”, deseja.

“Eu peguei um Estado cultural muito iniciante. Eu ajudei a sair disso para ir para a profissionalização. Hoje a gente tem artistas, músicos, cantores, de orquestra… Que podem sair daqui e tocar em qualquer lugar do mundo. Esse intercâmbio cultural, hoje, é possível. O Espírito Santo hoje tem que se alegrar pelo legado que nós deixamos para, agora, os outros chegarem e terem essa base para partir dali. Estudando sempre e nos respeitando, respeitando tudo o que fizemos. Não julgar. Hoje a base já está em uma visão profissional muito boa. Todo mundo hoje sabe trabalhar bem”, define sobre a nova safra dos mais de 80 músicos da Oses, orquestra em que ajuda na direção artística.

“O Espírito Santo teve uma evolução muito importante. Só de armos de Escola de Música do Espírito Santo (Emes) para Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames), de quando a escola de música ou a ser faculdade de música e virou curso superior, já foi um adianto e tanto. Mas a evolução demorou muito. Por muito tempo foi amor para, muito depois, virar retorno financeiro, inclusive, com a criação da Oses. Mas a escola de música foi a base. Dali, formamos trios, quartetos… Até chegarmos à conclusão da criação da orquestra. Mas que foi difícil, foi”, lembra.

“A falta de visão da cultura capixaba já mudou de cor. Não é que a gente ficou vaidoso. É que a gente cada vez mais contribui, coloca um pontinho ali, outro aqui, não deixa nada morrer… Sempre com sentimento positivo para crescer”, acredita.

O sucesso profissional deu jogo certo com a pessoal. Apesar de um só, Natércia brinca: “Fui na qualidade (risos)”. Fruto de um casamento que acabou, a cantora tem um filho. “Me casei, depois não foi muito bem, faz parte, mas o casamento deu um fruto. Um filho que gosta de estudar, pesquisar… Está crescendo. Eu o deixo brilhar, levando nas rédeas curtas, apesar de ele já ser um homem. E vovó eu não sou ainda, é esperar (risos)”, detalha.

E conclui: “Eu só sinto falta de as pessoas terem senso de responsabilidade e que entendam que só o talento não basta. É talento, trabalho de base… E não se impressionar com as palmas. Tem que sentar, estudar, saber o que está fazendo… Que aí você é respeitada e será respeitada. Mas a turma nova também está de parabéns. Eles entram em palco, amam, se deslumbram… Mas entram na técnica, que é necessário. Se não fizer a técnica, não cresce”.

VÍDEO: ENTREVISTA COMPLETA NO YOUTUBE

Pedro
Pedro Permuy

Colunista de Entretenimento e coordenador do Núcleo SEO da Rede Vitória

Pedro Permuy de la Varga é jornalista pela Faesa e especialista em Redação SEO e Storytelling pela ESPM Rio e em SEO e WPO pela Universidad de Madrid (UAM)/EL PAÍS, da Espanha. É colunista do Folha Vitória e apresentador dos quadros de entretenimento do Balanço Geral ES e Fala ES, na TV Vitória/Record, e das rádios Jovem Pan Vitória e FM O Dia Vitória.

Pedro Permuy de la Varga é jornalista pela Faesa e especialista em Redação SEO e Storytelling pela ESPM Rio e em SEO e WPO pela Universidad de Madrid (UAM)/EL PAÍS, da Espanha. É colunista do Folha Vitória e apresentador dos quadros de entretenimento do Balanço Geral ES e Fala ES, na TV Vitória/Record, e das rádios Jovem Pan Vitória e FM O Dia Vitória.