
Vitória é a capital do Brasil com o maior percentual da população na Classe A. Atualmente, a capital capixaba tem 9,5% das pessoas com salário acima dos R$ 25 mil mensais. A informação é do estudo “Classes de Renda no Rio”, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura do Rio de Janeiro. Do mesmo modo, o estudo tem como base os dados oficiais levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para explicar esse fenômeno, o diretor-geral do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Pablo Lira, destaca fatores históricos, econômicos e estruturais. Nesse sentido, para ele, a fase consolidada hoje da capital do Estado vem a partir de décadas de planejamento.
“Vitória apresenta, há mais de uma década, uma concentração maior de população nas classes de renda superiores. Em 2014, publicamos um livro no âmbito da rede de pesquisa nacional do Observatório das Metrópoles, que analisava justamente essa estrutura social nas regiões metropolitanas. Vitória já se destacava”, explica Pablo Lira.
Capitais com maior parcela de Classe A do país:
Posição | Capital (estado) | Percentual (%) |
1º | Vitória (ES) | 9,5 |
2º | Brasília (DF) | 8,8 |
3º | Rio de Janeiro (RJ) | 8,3 |
4º | Belém (PA) | 8,1 |
5º | Florianópolis (SC) | 7,9 |
6º | São Paulo (SP) | 7,5 |
7º | João Pessoa (PB) | 6,9 |
8º | Cuiabá (MT) | 6,4 |
9º | Curitiba (PR) | 6,4 |
10º | Belo Horizonte (MG) | 6,1 |
11º | Porto Alegre (RS) | 6,0 |
12º | Natal (RN) | 5,8 |
13º | Teresina | 4,7 |
14º | Goiânia (GO) | 3,5 |
15º | Palmas (TO) | 3,2 |
16º | Fortaleza (CE) | 2,8 |
17º | Campo Grande (MS) | 2,8 |
18º | Macapá (AP) | 2,7 |
19º | Boa Vista (RR) | 2,5 |
20º | Maceió (AL) | 2,3 |
21º | Salvador (BA) | 2,1 |
22º | Recife (PE) | 2,1 |
23º | São Luís (MA) | 1,6 |
24º | Manaus (AM) | 1,4 |
25º | Aracaju (SE) | 1,3 |
26º | Rio Branco (RO) | 1,1 |
27º | Porto Velho (AC) | 0,8 |
Vitória no topo do ciclo de desenvolvimento
O diretor-geral do Instituto Jones destaca ainda que Vitória é uma referência e reflexo do momento vivido pela economia do Estado. Ou seja, para ele, o ciclo de prosperidade capixaba aparece nos números da capital.
“O Espírito Santo vive, desde 2010, um ciclo de desenvolvimento econômico consistente, com taxas de crescimento acima da média nacional. Nesse sentido, somos o Estado com os melhores indicadores de educação e, atualmente temos a quarta menor taxa de desocupação do Brasil: 4%, contra uma média nacional de 7%”, destacou.
Vitória é uma capital compacta, planejada há décadas, desde o projeto Arrabalde, no início do século XX. Embora não seja o município mais populoso da Grande Vitória — Serra, Vila Velha e Cariacica têm mais habitantes — é onde se concentram bons serviços públicos, infraestrutura urbana qualificada. Além disso, tem proximidade com o aeroporto. Ou seja, isso atrai executivos e famílias de alto poder aquisitivo. Pablo Lira, Diretor-Geral do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN)
Educação e empreendedorismo em Vitória
Para a professora da Fucape e ex-secretária da Fazenda de Vitória, Neyla Tardin, pelo menos três razões contribuíram para o aumento da concentração de pessoas com alta renda per capita em Vitória. Nesse sentido, a capital se destaca principalmente em relação ao lado humano da população.
“A primeira delas a pela formação de capital humano na cidade. Várias pesquisas mostram o impacto da melhoria nos níveis de educação na composição da mão de obra de uma região. Capital humano de qualidade exige remuneração compatível com suas habilidades. Recentemente, em levantamento publicado em janeiro de 2025, o Centro de Liderança Pública (CLP) destacou um aumento na taxa bruta de matrícula no ensino superior na cidade”, pontuou a ex-secretária.
A qualidade de vida da cidade e o custo de se viver na Capital são outros dois pontos, muito relacionados, a serem considerados. Há mobilidade urbana considerável (mora-se perto do trabalho e perto do mar) e um tráfego de veículos muito abaixo do que se vê em outros centros urbanos. Neyla Tardin, professora da Fucape, ex-secretária de Fazenda de Vitória e subdiretora de Finanças da Assembleia Legislativa.
Neyla também chama atenção para a qualidade de vida da cidade e o custo de se viver na capital do Estado. “São outros dois pontos, muito relacionados, a serem considerados. Há mobilidade urbana considerável (mora-se perto do trabalho e perto do mar) e um tráfego de veículos muito abaixo do que se vê em outros centros urbanos”.
Outra razão permeia uma questão que considero cultural. Vitória tem uma gama de empresas familiares em pleno desenvolvimento. Supermercados, construtoras, financeiras e companhias de logística são geridos por famílias capixabas, que preparam seus herdeiros para a sucessão. Esses herdeiros permanecem gerenciando as companhias na cidade, fixando-se nelas. A qualidade de vida de Vitória, somada ao sucesso do empreendedorismo familiar, leva muitos empreendedores a manter moradia na cidade. Neyla Tardin, professora da Fucape, ex-secretária de Fazenda de Vitória e subdiretora de Finanças da Assembleia Legislativa.
Desigualdade social ainda é um desafio
Apesar dos avanços, Pablo Lira alerta para os contrastes que ainda aparecem no levantamento que leva em conta a distribuição de outras classes sociais. A mesma pesquisa aponta que 26,9% da população da capital estão nas classes D e E. O percentual mostra que ainda há objetivos a alcançar em Vitória.
Nem tudo é um mar de rosas. Vitória ainda convive com desigualdades profundas. A dois ou três quilômetros de bairros nobres, encontramos famílias vivendo com menos de um salário mínimo, como nos bairros da Penha e Andorinhas. A proximidade geográfica contrasta com um abismo no tecido social. Pablo Lira, diretor-geral do Instituto Jones dos Santos Neves.