A segunda temporada de “The Last of Us” chega ao fim com um episódio que mais parece uma interrupção brusca do que uma conclusão. Em vez de entregar um desfecho satisfatório, a série opta por uma mudança abrupta de perspectiva e por um gancho que, longe de empolgar, soa como um truque de roteiro.
Não há encerramento claro de arco narrativo, apenas uma pausa confusa que frustra o público para engajar em uma nova história a ser contada na terceira temporada.
Dividir o jogo em mais de uma temporada tem consequências
A decisão de dividir a adaptação do segundo jogo em mais de uma temporada, embora compreensível em termos de complexidade da história, cobra seu preço aqui. A série entrega apenas metade da trama, encerrando no ponto em que a rivalidade entre Ellie e Abby ganha mais força, mas sem concluir nada de fato.
É uma jogada de risco, e o resultado é uma temporada que se mostra incompleta. A sensação de vazio é ainda mais acentuada pelo hiato previsto de mais de um ano até a continuação.
Com sete episódios, contra nove da primeira temporada, o segundo ano parece ter menos tempo para aprofundar seus personagens e desenvolver suas tramas. Ainda que a temporada tenha buscado uma construção mais ousada, especialmente ao explorar a vingança como tema central, ela tropeça durante a sua execução.
Ellie parte em uma jornada movida pelo ódio, enquanto a nova personagem Dina, exposta a riscos constantes, tenta manter o equilíbrio entre o amor e a sobrevivência. A série tenta justificar decisões com diálogos e flashbacks, mas muitas vezes falta substância emocional.
Pouco espaço para brilhar
A introdução de Abby como uma nova protagonista traz uma reviravolta interessante, mas mal conduzida. A atriz Kaitlyn Dever entrega uma performance forte, e a proposta de mostrar Abby como o “espelho” de Ellie tem potencial dramático. Ainda assim, a transição de ponto de vista foi feita de maneira brusca, sem a elegância necessária para tornar a mudança fluida.
A expectativa é que, com Abby no centro da narrativa, a terceira temporada consiga alcançar a profundidade emocional que esta tentativa deixou escapar.
Há também falhas na construção de coadjuvantes importantes, como Jesse e a própria Dina, que têm tempo de tela significativo, mas são pouco explorados.
O episódio de flashback com Joel evidencia o que falta: personagens bem definidos e relações críveis.
Mesmo com bons atores, como Isabela Merced e Young Mazino, o roteiro não lhes dá o espaço necessário para causar impacto. O espectador sentirá falta daquele mesmo investimento emocional que foi feito na primeira temporada.
Bella Ramsey segue sendo o grande pilar da série
Mesmo com esses tropeços, a temporada mantém alguns pontos fortes. A atuação de Bella Ramsey continua sendo um dos pilares da série, sustentando cenas emocionalmente pesadas com intensidade.
A relação de Ellie com seu trauma e a maneira como isso a afasta de suas conexões ainda são exploradas com alguma sensibilidade, enquanto a personagem está aos poucos se tornando aquilo que mais teme.
O roteiro acerta ao mostrar que a jornada de vingança tem um custo, seja ele físico, emocional ou moral. Não há redenção fácil nesse mundo, e a série deixa isso claro desde o começo. O problema é que, ao encerrar por aqui, ela priva o público de acompanhar as consequências dessa escolha.
Os co-criadores da série, Craig Mazin e Neil Druckmann, têm uma visão ambiciosa para a adaptação, e isso continua sendo um mérito. Mazin traz o peso dramático que consagrou em “Chernobyl”, enquanto Druckmann, roteirista dos jogos, sabe o que precisa ser transformado para que a história funcione na televisão e a primeira temporada foi uma prova disso, equilibrando fidelidade e inovação com sensibilidade. Já esta segunda, ao tentar ousar, perde parte da força narrativa por não saber dosar o tempo e o foco.
Ao final, o saldo é agridoce. “The Last of Us” continua sendo uma das produções mais sofisticadas e emocionalmente densas da televisão atual, digna da marca HBO, mas entrega um segundo ano um tanto quanto frustrante, que promete mais do que realiza.
O público é deixado esperando não apenas pela próxima temporada, mas por uma sensação de conclusão que nunca chega. Para uma série que fala tanto sobre perda, devem tomar cuidado para que não percam o próprio fôlego.